Pelo defensor dos direitos e dos esquerdos: Pablo Ramos
UM
O casal se protegia da chuva sob uma marquise se beijando com carícias longilíneas. Apaguei a luz e fiquei ao lado da janela olhando. Ele aparou o rosto da namorada com carinho e disse algo doce ao pé dos lábios, se beijaram. A mão dele oscilou pelas pernas e pela calcinha da amada, ela abraçou seu homem para que não fugisse o momento – e logo não havia zíper ou saia que os impedisse. Amaram de pé contra a parede, chuva rasgando a noite enquanto eles picotavam manuais de pudor. Depois ficaram abraçados, quietos, ouvindo o temporal que não passava. Fui tomar um café e quando voltei para a janela eles não estavam mais lá, no meu paladar o gosto do amor que sentiam e que amanhã, com a lembrança daquela noite, ia parecer renovado…
DOIS
A marquise nos protegia da chuva, mas não pode protegê-la de mim. Estava ali, amparado nas minhas mãos, aquele rostinho de boca carnuda. Eu disse exatamente o que ela queria ouvir, ela fez exatamente o que eu esperava: abriu caminho. Beijei a presa e marquei território pelas pernas até chegar à calcinha. Ela me abraçou melosa enquanto eu dava folga para o zíper e para a saia – ali mesmo, contra a parede, ergui meu estandarte e fiz o que queria, fiz o que DEVIA! Ela estava caidinha mesmo, pelo jeitinho que me abraçou vi que ia dar trabalho – estava na cara que ia esperar minhas ligações, meus apelos que não viriam. Essa é a parte chata, quando elas esperam algo em troca. Saco! Não agüentei e disse para irmos andando, o velho truque de fazer da chuva um momento de diversão romântica; mas tudo que eu queria era ir pra casa.
TRÊS
Debaixo da marquise eu lembrava o quanto tinha amado aquele homem a vida inteira e como fora ignorada por não ser uma legítima gostosa. Anos perdidos na certeza de ser nada para ele. E já havia me acostumado quando meu corpo lembrou de crescer e eu pude ver como era asqueroso aquele que me desprezara, e que agora cortejava minhas curvas como se eu devesse agradecer por seu desejo; passei a odiá-lo do alto da minha gostosura e fazer aquele charme que não diz que sim nem que não, instiguei até que, debaixo de chuva, fomos parar debaixo daquela marquise. Pegou meu rosto com as mãos e disse suas nojeiras como se eu ainda fosse capaz de acreditar nelas. Me entreguei com a paixão que um dia tivera: suas mãos em minhas pernas, em mina calcinha… Sem pensar em zíper ou saia o surpreendi com um ardor esperado e de pé, contra a parede, deixei que a menina sofrida que eu fora se divertisse, para que a mulher na qual me tornei pudesse ter sua vingança. Ele tentava bancar o garanhão, cheio de si, mas fazia tudo errado – mal conseguia um vai-e-vém que não desse sono! Amanhã eu o faria sentir o desprezo que ele mesmo me servira por anos. Eu o abraçava forte só para poder descartá-lo depois, ele estava na minha mão. Achei ótimo quando quis ir embora e tive que fingir que adorava correr na chuva como uma idiota. Hoje ele já me ligou três vezes, o infeliz…
Sensacional, muito bom Pablo!
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Oi prof., excelente final!!!! Apesar disso concordo que ela também agiu errado na situação!
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Graande Pablo,trazendo sempre angulos e versões de dar agua na boca,,,,muito legal este doido conto ,me fazendo pensar em mil detalhes a mais para me apegar e não lembrar q (talvez),já tenha passado por isso (ok,ja passei!!)…..Abraço,,,,semana q vem é o meu…..
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Haha.. Se fudeu! YGSYgsyuGSUYgyusgYGSYgyA ( Adorei Pablito )
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As mulheres adoram esse final hahahaha
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ADORO! Cada um no seu universo individual, acreditando ser o centro dos universos alheios… Pablo, sou seu fã…! =)
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Vc é um dos maiores fâs que tenho no unierso (do qual, a propósito, eu sou o centro!)
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Muito boa Pablo , essa é a segunda que leio , adorei.
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Vc não perde por esperar os próximos, obrigado pela audiência
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Momentos assim somos egoístas em nossos devaneios. E muitas vezes sem nos conhecer, sem saber de nossas verdades. Enfim, um eterno teatro de emoções manipuladas e interpretadas de acordo de cada um.
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Pois é, NUNCA é nada disso que estamos pensando….
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Essa é das minhas, apesar de que deixá-lo de mal humor e de bolas azuis seria vingança melhor para esse idiota.
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Para esse idiota, só mesmo cortando as bolas dele!
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Ok, vou confessar que às vezes me custa ler algumas palavras em português-brasileiro (ziper, por exemplo), mas foi divertido ler as 3 versões da mesma história. O único/a que sonhou/voou nas asas do romantismo foi mesmo/a o/a voyer.
Gostei particularmente da vingançazinha feminina, mas, também confesso, que jamais iria dar uma “trancadinha” com alguém que já nem sequer era agradável à vista, só para me vingar dos meus sonhos não realizados de adolescente.
beijos d’enxofr
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Pois é, no final ela também estava errada, tinha mais era que viver a vida dela e esquecer aquele pastelão (em português-brasileiro: mané, otário, bobo)
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Estória contada a 3 cérebros, ou a 3 visões diferentes da mesma cena, e bem contada!
O cérebro do voyer, o cérebro do macho cheio de testoterona e cérebro da mulher vingativa!
Normalmente os voyers tem tendência a apenas focar-se na líbido e não a reconhecer detalhes ou pormenores quando observam cenas escaldantes. O macho pensa sempre que domina o mundo com a ponta do “coiso”. A mulher consegue ser bastante mais fria quando usa o macho…
3 visões muito bem conseguidas!
Parabéns ao Pablo Ramos!
🙂
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Muito obrigado Nuno, mas devo dizre que há voyeurs que se ligam bastante em detalhes… falo por experiência própria hehehehehehehe
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Taradola!!!!
😀
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Tv gostando da 1ª parte, mas as 2 seguintes foram + surpreendentes !
PARABÉNS. 😉
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A primeira era só aquecimento hehe
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Quem de nós homens, nunca achou que estava abafando com uma mulher, quando na verdade nós é que éramos os usados… belo conto, curti demais!
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Po vc percebeu o conteúdo autobiográfico? ahahahaha
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Esses erros de julgamento acontecem muito mais do que a gente imagina quando de fora assistimos cenas quentes como essa…dá-lhe Calígola Virtual!!!
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É, olhando esse aí meu continho fica parecendo sermão de domingo em igreja do interior!
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Ótimo! =D
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Obrigado! É pensando no público feminino que me inspiro rs
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