por Carlos “liso e sem grana pra pagar” Lenilton.
Se você ainda não leu Pagando por Sexo, Paying for It no original, deve fazê-lo imediatamente. Compre, empreste ou roube, mas leia-o. Lançado em Agosto último, já é para mim sério candidato a melhor lançamento do ano. Com certeza o mais polêmico. É de autoria do canadense Chester Brown, um conhecidíssimo artista underground na América do Norte ganhador de quatro prêmios Harvey e ilustre quadrinhista em seu país de origem ( faz parte do Canadian Comic Book Creator Hall of Fame). Chester Brown é talentoso, bem sucedido, articulado… E doido. Bem, troquemos a palavra doido por estranho.

Chester Brown é um cara estranho, muito estranho… Um estranho no ninho por assim dizer. Diferente de quase todos – eu disse QUASE todos – ele não esconde seus “desvios” enquanto escancara os alheios, nem mesmo enaltece suas qualidades, algo tão comum nos seres humanos. Ao contrário ele abraça e sem nenhum cinismo confessa suas transgressões. Ele despe-se quase que por completo neste álbum auto biográfico onde desfila suas aventuras sexuais com prostitutas. Mas engana-se quem acha que Chester Brown é pura e simplesmente um imoral libertino. Nada disso, é apenas um tímido e deslocado social que não vê alternativa mais fácil para obter prazer sexual. Tenho amigos assim, pessoas com real dificuldade de se relacionarem em termos românticos principalmente por timidez e vamos lá, um pouquinho de baixa auto-estima.
Chester Brown no início da história, sua história, é chutado pela namorada com a qual divide o apartamento. Os dois tem uma conversa onde ela confessa estar sentimentalmente envolvida por outro homem e bem ao estilo menos emotivo que o nosso jeito latino e sangue caliente nosso canadense aceita não só o fim da relação mas também continuar morando junto da ex afinal não quer pagar um aluguel sozinho.
Espanta-me o pragmatismo de Chester com relação as coisas ao seu redor. Ele é racional até em situações limite, como quando ouve a ex e o novo namorado transarem no quarto ao lado e confessa não ter sentido ciúme, para nós brasileiros isso é um tanto surreal mas no livro, conhecendo Chester, isto se torna crível. Ele parece um homem de outro planeta. Sabem o que faz? Decide não ter mais namoradas e não investir mais em relações românticas pois elas são fantasias inatingiveis no mundo real: amor eterno, monogamia, paz entre casais? Nada disso é possível, então pra que mentir pra si mesmo? Se no fim tudo acaba em sexo, melhor pular o capitulo inicial, o meio e ir direto pro fim.
Mas não pense que nosso análitico Chester não tem seus medos. Ele tem sim e estão todos no livro. Como quando decidido a pagar por sexo tem todas as paranoias que rondam a primeira vez em que decidimos visitar o submundo. Ele teme, treme e foge. Eis aí sua humanidade tão negado a principio.
Sincero e aberto sobre sua vida, afinal ele não se envergonha do que faz já que não vê mal algum, ele conversa livremente com seus amigos, os quais são bem mais “normais” em relação ao assunto: eles o criticam e a todo instante tentam mudar sua opinião em relação ao amor romântico. Dessas conversas saem momentos deliciosos do livro. Não porque são argumentos irrefutáveis mas por que nos faz pensar: será a prostituição algo tão danoso como crê nossa hipócrita sociedade? Deveria ela ser legalizada e regulamentada ao invés de combatida? O estado tem o direito de legislar sobre o corpo do individuo? Amor romântico e ciúmes são sentimentos naturais ou imposições culturais de nossa sociedade? Chester tem sua opinião formada, seus amigos tem as deles e você certamente ao terminar de ler este livro terá a sua.
Após uma conversa sobre a liberdade interpretativa das traduções realizadas por vários grupos de scan e também entre editoras que lançam e relançam o mesmo material surgiu esta análise de um grande amigo meu:
UMA ANÁLISE SOBRE TRADUÇÕES
por Roberto Holanda
Uma tradução não é uma arte exata como se pode pensar. Aliás, é uma arte. Todo idioma possui suas peculiaridades, e muitas vezes a tradução de um termo torna-a mais poética, melhor adaptado ao idioma para o qual está sendo traduzido, ou destruir todo o contexto original.
Vários blogs de traduções geram as mais diferentes opiniões, aonde formandos em Letras se defrontam com “curiosos” que passaram um mês no exterior, ou pessoas que aprenderam “na prática”, enquanto mal conhecem regras gramaticais de português. Bem, o objetivo deste texto não é criticar as qualidades, e sim apresentar que muitas vezes “status” ou volume de freqüência de visitas não garantem uma qualidade de tradução.
Para exemplificar o que tenho visto por aí, uso a página 3 da revista “Kill Your Boyfriend”, edição especial escrita por Grant Morrison e desenhada por Philip Bond. Abaixo, apresento a página original, lançada pela DC Vertigo em 1995 (republicada em 1998. Aliás, este scan é do relançamento).
Abaixo, vocês veem a versão traduzida para o português – a primeira que saiu no Brasil, pela editora Tudo em Quadrinhos (não consegui identificar o ano). Aliás, o título totalmente diferente da edição original – “Como Matar Seu Namorado”.
O título é matador, considero um verdadeiro assassinato e uma falta de respeito com uma obra, mas a tradução é o que poderíamos considerar “o esperado”. Não se perde em “regionalismos”, e mesmo arriscando soar um pouco “deslocado” com o modo que as pessoas brasileiras falam, ele é muito fiel ao original. O texto flui, respeita nossa gramática – já tive discussões com quadrinhistas sobre até quanto são válidas as gírias nas histórias; quando um garoto que se apresenta na história como quase analfabeto, devemos mostrar suas falas assim? “ae, malucô, us cigarru são meus”, “ae, maluco, os cigarros são meus” ou “’ae’ maluco, ‘us cigarro’ são meus ? (a que mais me aconselharam foi a última opção, mas isso não deve tornar-se regra).
Contudo, a revista está para ser relançada pela editora Panini, com diferenças gritantes na produção. O título respeitou o original – “Mate Seu Namorado” – sem preocupações se isso vai influenciar alguém ou não, sei lá se isso foi justificativa para o título da versão da Tudo em Quadrinhos.
Em muitos momentos a versão da Panini, que até o momento só vi o “preview” na revista Vertigo nº 36, talvez apresente muitas outras – ou nenhuma – diferença nas páginas seguintes.
Observe o terceiro quadrinho. Aproximando-se ao máximo do original, a tradução que considero a mais recomendada seria “imagino que não teria fogo” ou “imagino que não teria um isqueiro”; veja o que foi feito nas duas versões. No terceiro quadrinho, a garota diz: “viu aquilo?”, enquanto a Panini “atualiza” o termo, parecendo mais uma colegial de nossos tempos: “cê viu?” no quarto quadrinho, a garota fala como uma colegial de hoje em dia na versão da Tudo em Quadrinhos, e mais próximo do original na da Panini.
Erros? Não é o caso. São mais questões estilísticas do que mesmo “erros”. A tradução da Tudo em Quadrinhos tenta ser mais fiel ao original, mas arriscando tornar-se “fria”. A da Panini tem diálogos mais “populares”, mas em muitos momentos foge demais do original.
Vale citar que estas traduções não são de blogs, e sim de editoras que possuem direitos autorais para publicação, revistas que podem ter sido enviadas para aprovação dos editores originais. Este é praticamente o motivo deste meu breve texto; não se espante quando ler duas versões com diferenças gritantes em blogs de tradução; a margem de liberdade numa tradução, seja em prol de um texto mais poético, seja em busca de um linguajar mais popular, seja em busca de permanecer o mais fiel possível ao original. Claro, em blogs existem erros, nem todos possuem igual conhecimento gramatical – são feitos por fãs, muitas vezes não bons conhecedores da gramática do idioma traduzido – mas quem possuir um real conhecimento gramatical pode buscar qual blog está se esforçando para ser fiel, e qual está sendo mais estilístico.
Muitos blogs buscam a melhor qualidade para seus visitantes, mas não existe uma tradução “definitiva”, para melhor dizer. Idiomas não devem ser barreiras, e sim formas de representação de uma ideia.
Incrivel a crítica ao amor romântico, realmente é para pararmos e pensarmos se a monogamia-exclusiva-controladora-possessiva-ciumenta é a única forma de estabelecermos relacionamentos! Sou a favor, eu mesmo MILITO PELO AMOR, não tenho nada contra pessoas se apaixonarem )pelo contrário tenho tudo a favor), mas esperar que um núnico modelo de relacionamento sirva para todo mudo é no mínimo ingênuo. E tem mais: prra mim, PUTA é elogio, é palavra carinhosa, é pra ser usada na intimidade entre namoradinhos apaixonados. E as putas por profissão… bem, essas são um bem necessário, uma força da natureza, um serviço de cunho social, uma maravilha, um espetáculo.
VIVA AS PUTAS, INCLUSIVE AS SANTAS!
E quanto a traduções só tenho a dizer: Put and keep a real, my friend!
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Concordo em tudo com vc, Pablo! Deixem as putas em paz e vão pegar no pé de politicos safados e ladrões que te fodem, te roubam e não te dão nenhum prazer. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
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É como fala um ditado italiano que meu professor de hermenêutica vive repetindo “Todo tradutor é traidor”
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Hahahahaah! Com certeza.
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Que revista inusitada! Vou querer ler essa material, Calos. Aliás parabéns para a matéria sobre traduções também e um salve muito grande para todos esses profissionais tão importantes para nós fãs de literatura e nona arte.
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Agradeço muito seu comentário, Bianca! Estava mesmo curioso para saber a opinião feminina. Bom saber que vc leria este material.
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Não penso exatamente como Chester, porém não acho que ele esteja 100% errado, muito pelo contrários. Realmente o Estado busca entre diversas outras coisas, regular a liberdade sobre o corpo das pessoas e entre diversos problemas humanos, e sociais, assim como o código penal brasileiro, as noções do que é um relacionamento amoroso estão defasadas e precisando urgentemente ser reavaliadas, nunca funcionaram como deveriam.
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O que dizer de um casamento de fachada? de uma união por interesse? Da traição? que dizer de pessoas sempre prontas a apontar o dedo pros outros quando escondem atrás de si erros inenarráveis? A sociedade é hipocrita e gente como Chester Brown faz enorme falta, não pela sua postura quanto ao sexo, mas sua postura em relação a vida. Abração, Victor!
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Eu acho que prostituição é crime sim,mas a história parece interessante…
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Não vejo a protituição como crime, agora assim como na politica e em vários setores da sociedade algumas prostitutas são tbm criminosas. Taxar a prostituição de crime é dizer que quem procura esse serviço tbm é ou no minimo é cumplice. o que convenhamos não é verdade. Há um leque enorme de pessoas solitárias, tímidas, com baixo auto-estima e outros problemas ( seja de ordem física ou social) que ficariam totalmente á margem do prazer sexual se elas não existissem. Viva e deixe viver!
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Pelo que parece tradução é igual cueca. Cada um tem a sua e não se discute. Sim. Existem peculiaridades que são definidas pela sensibilidade do profissional que executa o trabalho. Mas uma coisa que nunca vai me convencer, foi o trabalho medíocre feito pelo sr. Jotapê Martins a frente da editora Abril nos anos 80 e início dos 90. É certo que naquela época a situação era outra, e nem todo mundo tinha acesso num bom curso de inglês e os dicionários tinham preços exorbitantes (me lembro que em 1986, na sexta série do ensino fundamental, o livro mais caro da minha lista de materiais foi um Collins Gem), mas nada justifica ser ditatorial prá tudo e desrespeitar a arte original.
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Nilson, o que me incomoda olhando para trás nem é tanto as traduções que comiam frases e as vezes mudavam completamente o texto ( pois na época pressupunham que só crianças liam gibis e então elas iriam gostar de qualquer jeito) e sim os cortes grotescos em artes e páginas ( coisa feita não apenas pela Abril diga-se). Somando essas duas coisas dá um derespeito ao consumidor nojento. Crianças são consumidoras e merecem todo o respeito.
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Gostei muito dos dois textos, foram agradáveis surpresas, entrei esperando Arrow e achei algo muito melhor até. Quer saber? Vou buscar achar essa revista do “pagando por sexo” para mim!
Parabéns!!!
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Obrigado! É bom surpreender positivamente.
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Fique com vontade de ler essa HQ ^^ e gostei muito da análise sobre traduções!
PS: Conheço o blog a pouco tempo e já esta na lista dos favoritos.
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É uma ótima pedida pras compras de Natal.
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EDITORIAL SANTUÁRIO:
Segunda – Novíssimos X-men #3
Terça – Aquaman
Quarta – Pagando por Sexo e Uma Análise Sobre Tradução de Kill Your Boyfriend.
Quinta – O HOBBIT – Pré estréia
Sexta – Liga da Justiça Dark
Sábado – O Quarto Mundo de Jack Kirby
Domingo – Surpreendentes X-men

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