Continuando a série de resenhas do título produzido por Matt Kindt (roteiro), Alberto Ponticelli (desenhos), Wayne Faucher (arte-final) e Jose Villarrubia (cores).
Por Rodrigo Garrit
Contém spoilers revelações sobre a história

Frankenstein e a Dra. Nina estão numa outra versão da realidade investigando a existência de um possível espião infiltrado na organização S.O.M.B.R.A. Em meio aos problemas técnicos apresentados pelo seu equipamento, o que compromete sua volta para casa, eles precisam sobreviver a alguns monstros marinhos e desvendar os segredos de Leviathan. Considerando que o personagem já derrotou um Planeta Monstro Vivo e seus Titãs, o desafio não parece tão grande. A questão está nas verdades que se revelam, e o fazem questionar as ações da S.O.M.B.R.A. Ao mesmo tempo, ele é bombardeado por recordações das pessoas mortas que Victor Frankenstein usou para criar seu corpo… todos assassinos e rejeitados pela sociedade. Frank baixa um pouco sua guarda e divide algumas confidências com a Dra. Nina…

Desenvolver roteiros seriados divididos e distribuídos em edições mensais normalmente com 22 páginas não é uma tarefa exatamente grata, mas um escritor habilidoso e experiente pode se aproveitar dessa mecânica e usá-la a seu favor, e se for esperto, com um prévio planejamento e total noção de onde a sua história está indo e o que ela vai encontrar quando chegar lá. Infelizmente, muitos roteiristas se perdem ao trabalhar suas ideias nessa louca plataforma – os quadrinhos. A grande verdade é que não existe nenhuma regra específica a ser seguida, a não ser aquelas que devem ser usadas em qualquer mídia pra onde se decida escrever. A história precisa ter coesão, precisa situar o leitor sobre seus começos meios e fins. Ela deve saber caminhar, deve percorrer seu desenvolvimento às claras e embora seja verdade o que dizem sobre uma história acabar por se escrever sozinha, é preciso que exista alguém aparando as arestas e editando seu próprio fluxo de ideias… desviando o curso dos rios, acelerando-os se preciso e os represando quando necessário.
Não é o que tenho visto desde que Matt Kindt assumiu os roteiros de Frankenstein após a saída de Jeff Lemire. Seu ritmo lento parece condensar a mesma trama a cada número, gerando repetições do mesmo tema ou novas versões das ideias já apresentadas antes. A história pode até ter uma reta de chegada, mas não avança.
Ao assumir o título “Eu, o Vampiro”, Joshua Hale Fiakov parecia ter caído na mesma armadilha, porém no decorrer dos meses ele conseguiu fazer uma grande reviravolta que surpreendeu positivamente, e ao que parece acertou seu ritmo narrativo à velocidade de uma série mensal. Hoje em dia, ele é um dos meus autores de quadrinhos favoritos e a meu ver não fica atrás dos celebrados Jeff Lemire e Scott Snyder.
Lemire, por sinal, nunca escondeu que sua versão do Frankenstein (que na verdade é a versão deixada por Grant Morrison na minissérie “Os Sete Soldados da Vitória”) nada mais é do que uma caricatura do Hellboy, cultuado personagem de Mike Mignola publicado pela Dark Horse. Mas Mignola é um mestre e Hellboy é sua obra prima, logo fica evidente de que nunca se tratou de uma “falsificação”, mas sua proposta foi desde o início uma honesta paródia do mesmo. E não se enganem, paródias têm muito valor, é preciso saber fazê-las com muito cuidado, são uma forma de narrativa tão válidas quanto qualquer outra.
O Frankenstein de Matt Kindt não é a paródia de Morrison herdada por Lemire. Não é o Frankenstein de Mary Shelley, não é o Frankenstein dos filmes de Boris Karloff… e não é o Frankenstein de Matt Kindt. Ele não sabe quem é esse Frankenstein. E isso é um grande problema.
Escrever um personagem clássico como esse, mesmo dentro de uma mídia considerada (injustamente) inferior a outras formas de arte como os quadrinhos é o sonho de qualquer escritor dentro desse segmento. O que me faz pensar no que poderia levar alguém a fracassar nessa empreitada… o peso da pressão, a preocupação com a vendagem, intervenções editoriais ou o próprio desdém de alguns intelectuais a respeito dos quadrinhos? É possível que um escritor de fantasia não ame tão profundamente o personagem a ponto de não escrever simplesmente as melhores histórias possíveis com ele?
Os desenhos de Alberto Ponticelli podem não ser a melhor forma de retratar o monstro criado por Mary Shelley como seu “Prometeu Moderno”, mas encaixa-se perfeitamente para versão super-herói-de-desenho-animado-que-arrasa-tudo- nos-quadrinhos.
Não duvido que Matt Kindt descubra o mesmo caminho das pedras de Joshua Hale Fiakov e se mostre mais interessante nos próximos números… mas o fato é que mesmo que ele tenha conseguido tal façanha, a mesma não se refletiu em vendas, pois Frankenstein foi cancelado após a sua edição zero americana.
Mas os fãs do grandalhão não ficarão a ver navios. O futuro do Frankenstein é com a Liga da Justiça Dark. As cartas previram.
A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombam, cedendo à ação de ignotos pesos!
E então que a vaga dos instintos presos
– Mãe de esterilidades e cansaços –
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos
Subitamente a cerebral coréia
Pára. O cosmos sintético da Idéia
Surge. Emoções extraordinárias sinto
Arranco do meu crânio as nebulosas
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!
A Dança da Psique – Augusto dos Anjos
Resenha anterior de Frankenstein? O link da S.O.M.B.R.A. NET é AQUI!
[ERRATA] – Frankenstein foi cancelado no número 16, e não na edição zero conforme dito no texto.
Esse autor anterior tirou as palavras da minha boca, o Frankenstein realmente é uma cópia do Hellboy, descarada e oficial, não há vergonha nisso, quando essa “versão” é feita com respeito e qualidade como vinha sendo feita.
CurtirCurtir
Paródias são uma forma de narrativa muito difíceis de fazer, pois precisam ter qualidade, criar a ligação com o objeto parodiado e NÃO e ser uma falsificação genérica…
CurtirCurtir
Foi uma pena esse título ter desandado pois o que mais me chamou neçe foi o elenco de apoio. a S.O.M.B.R.A. é uma organização com infinitas possibilidades. Quem sabe isso ainda possa ser usado junto a LD.
CurtirCurtir
Eu acho que sim, porém não de forma amigável entre eles…. rsrs
CurtirCurtir
Gostei do texto… Interessante uso do personagem =D
CurtirCurtir
Valeu minha querida! Sou suspeito pois gosto muito do personagem e vê-lo atuando dentro da minha outra paizão que são o quadrinhos é muito gratificante!
CurtirCurtir
O Frankenstein é um bom personagem, gostei dele ir para a Liga Dark!
CurtirCurtir
Ele está entre os seus agora, meu caro… encontrou seu lugar!
CurtirCurtir
É interessante como um artista pode falar melhor a uma pessoa que a outra, eu adoro os desenhos do Alberto Ponticelli , sério. Não é um Mikel Janin, um Diógenes Neves, Paul Pelletier ou Daniel HDR, mas é um artista ímpar.
Só não fico mais triste com o destino dessa revista porque sei que ele tem brilhado nas páginas da Liga Dark. Resenha linda como sempre Mago da Nova Era teen… O esotérico: Garrit!!!
CurtirCurtir
De certa forma, Jeff Lemire conseguiu “resgatar” o Frank de volta… cara de sorte! (O Frank!)
Valeu amigo!
CurtirCurtir
Muito bom Rodrigo, está aew outro titulo da DC que vale a pena conferir ><
CurtirCurtir
O personagem é ótimo, só precisa ser bem aproveitado… bem, não é assim com todos? 😉
CurtirCurtir
EDITORIAL SANTUÁRIO :
Segunda – Os guardiões da Galáxia #1
Terça – Aquaman #18
Quarta – Questão: A fase DC Comics (parte um)
Quinta – Cinco quadrinhos veneráveis
Sexta – Frankenstein # 11
Sábado – Umas Tirinhas da Pesada!

Domingo – O Quarto Mundo de Jack Kirby!
CurtirCurtir