Resenha de “Batman: Sanctum”.
Roteiro de Mike Mignola e Dan Raspler com arte de Mike Mignola.
Por Henry Garrit
As ruas de Gotham estão repletas de crimes, desde pequenos assaltos, passando por estupros e assassinatos. Existem as gangues, o tráfico de armas e drogas, prostituição infantil, e claro, um incontável número de vilões fantasiados espreitando os becos escuros almejando tornar-se os donos das ruas… bastando para isso apenas matar o grande protetor da cidade… o herói fantasiado de morcego, considerado por muitos tão louco quanto os vilões que enfrenta. A situação já é ruim o bastante do que jeito que está, não? Com tantas ameaças em “nível humano”, é uma sorte que não existam problemas ligados ao sobrenatural, certo?
Errado.
Batman está no encalço de um assassino desequilibrado chamado Lowther, obcecado por sangue e rituais de magia. Perseguindo-o até um cemitério, o Homem Morcego presencia a morte acidental de Lowther enquanto este tentava escapar, mas seu sangue libera uma espécie de portal para um mundo além daquele que conhecemos, para onde ele é sugado, deparando-se com o espírito de um homem chamado Osric Drood, que lhe confidencia seu passado sórdido repleto de assassinatos ligados ao ocultismo junto a Ordem do Olho que Tudo Vê, o que supostamente lhe conferiu o que ele acredita ser a onisciência mas ao mesmo tempo lhe deixou aprisionado nessa dimensão moribunda. Aproveitando-se da chegado de Batman, ele pretendo usar seu sangue para ressuscitar e dar início a uma nova Era de Caos no mundo dos vivos, deixando o cruzado de capa aprisionado em seu lugar… o que obviamente o Cavaleiro de Gotham não aceitará passivamente apesar da imensa desvantagem em que se encontra, uma vez que Drood é o senhor absoluto desse reino profano, um mago das trevas poderoso, enquanto que Batman é… “apenas” um homem.
Desnecessário dizer que o tema sobrenatural é a especialidade de Mike Mignola, criador do cultuado Hellboy, e dono de um traço que se tornou referência para os quadrinhos de terror. Embora Batman seja uma figura aterrorizante criada para amedrontar criminosos supersticiosos, todo o mito que o envolve é baseado em um terror psicológico obtido através de anos de treinamento e técnicas que embora sejam tremendamente assertivas, não possuem ligação com o sobrenatural. Ele é um homem levado até o limite e com isso realiza proezas que beiram o impossível. Mas ainda é um homem, e isso é o que de melhor o personagem possui. Então, sempre é um tanto arriscado misturar essa aura sombria do personagem com elementos genuinamente místicos existentes nas histórias em quadrinhos, exatamente para não desmerecer o grande feito do garoto órfão que ultrapassou todos os limites do corpo e da alma para se tornar quem é. Sim, fazer isso é arriscado, mas não significa que seja impossível de ser realizado.
Já vimos grandes histórias do Batman ao lado de personagens místicos, como Desafiador, Vingador Fantasma, Zatanna, Monstro do Pântano, Constantine e Etrigan, por exemplo. E esta história concebida por Mike Mignola não foge à regra. Nela, não temos um coadjuvante famoso para contracenar com o protagonista, mas como pode ser atestado, esse não é o fator primordial para o funcionamento de uma grande história.
Uma grande história sim, muito embora deva-se levar em consideração que ela é bem curta, é um conto sem grandes pretensões revolucionárias, publicada no título “Batman: Legends of the Dark Knight“, ou como foi traduzido aqui no Brasil: “ Lendas do Cavaleiros das Trevas“.
Embora curta, a história cumpre suas promessas, e entrega ao leitor o que se espera de um trabalho feito por Mignola: o sobrenatural levado à sério, os limites entre o real e o imaginário, e porque não, uma descida ao inferno, seja ele como cada um de nós imagina que seja.
Admirar o traço de Mignola é sempre um deleite, tanto por seu estilo único, dotado de personalidade própria quanto pela qualidade que seus desenhos conseguem expressar. Em uma primeira análise, seu traço é até mesmo simplista, mas daí resulta sua genialidade; afinal, como alguém consegue extrair tanto sentimento a partir de linhas supostamente tão simples? A arte de Mignola não é realista em comparação ao que vemos em nosso dia a dia, mas assustadoramente fiel ao que nos deparamos em nossos pesadelos.
“Batman: Sanctum” não é a obra revolucionária que vai alterar para sempre o rumo das histórias em quadrinhos. É apenas uma HQ de qualidade, escrita com propriedade e belamente ilustrada por um dos maiores representantes do gênero de terror em quadrinhos. É apenas mais um conto do Batman. Curto e divertido.
Como todas as histórias deveriam ser.
Republicou isso em Blog do Rogerinho.
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http://www.facebook.com/SavioChristiDesenhistaDivulgacao
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Mano Denilso, vim lhe dar os parabéns por seu trabalho e convidá-lo a acessar minha página de divulgação, eis o endereço → http://www.facebook.com/SavioChristiDesenhistaDivulgacao.
Bom, abraços e até mais então!
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O Batman de Mignola é o autêntico,real ,e não o Batman mostrado atualmente(que dá tapa no Darkseid)!Grande texto,amigo Rodrigo!
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Espero que um dia os roteiristas encontrem o meio termo entre o Batman urbano e membro da Liga da Justiça… existe uma forma de fazer ele funcionar nos dois ambientes, o difícil é encontrar quem saiba fazer isso com propriedade. Mike Mignola é um deles (seu Batman da série Odisséia Cósmica, por exemplo, é icônico, embora o texto seja do Jim Starlin, foi Mignola quem transportou suas ideias em imagens). Grande abraço, Vinicius!!!
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Essa aventura é sensacional,assim como o seu texto,caro Rodrigo!
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Valeu meu amigo Fond… James Fond! Abraços!
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Nenhum Robin morre, ou o Coringa arranca a pele do rosto ou o Batman sozinho derrota o Darkseid?! Que sem graça…
BWAHAHA!
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Era Mignola “fora das tendências”…. rsrsr
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Eu sempre ouço falar muito no Hellboy (adoro os filmes) mas nunca consegui ler nenhum quadrinho dele… já vi outras histórias desenhadas pelo Mike Mignola e achei foda!!! Inclusive uma do Batman em que ele luta com o Jack o estripador, mas nunca tinha ouvido falar nessa da resenha… fiquei com uma puta vontade de ler….
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Johnny, a história é curtinha, mas vale bem à pena. Mas corra atrás da HQ em que ele se encontra com Jack o estripador também… é cláááásico,,,,
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Realmente Mignola é mestre em escrever histórias de terror!O curioso é que mesmo sendo uma história fora do padrão,o Batman ainda é um ser humano,inteligente e bem-treinado,e não o Super-Batman que,infelizmente andam mostrando em algumas aventuras!
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O legal dele é essa “resposta humana” a todo e qualquer tipo de adversidade… Batman é Batman, ponto final!
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Concordo plenamente Srs Stark e Garrit…
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Lembro de quando essa hq foi lançada no Brasil. Mas nunca tive a oportunidade de lê-la. Parece boa.
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Como eu falai na resenha não chega a ser nada revolucionário, mas diverte. Gostei bastante.
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