Por Rodrigo Henry Garrit
Kong Kenan é um jovem metido a valentão de Xangai que vive uma rotina de brigas e problemas familiares, até se envolver com um super-vilão e ser recrutado pelo governo chinês, mais especificamente pelo Ministério da Autoconfiança, onde recebe poderes que fazem dele nada mais nada menos que o Novo Super-Man! Agora ele precisa se unir ao Bat-Man e a Mulher Maravilha da Liga da Justiça da China para salvar o dia de todo o tipo de vilões e terroristas. Mas a primeira grande lição heroica que Kenan precisa aprender é distinguir os nuances que separam o bem e o mal, e descobrir da pior maneira que nem tudo é preto no branco…
Então, a DC inventou um “Novo Super-Man” chinês!
O que podemos esperar dessa ideia inusitada?
Bem, decidi embarcar nessa leitura totalmente às cegas, sem ter ideia do que esperar, mas com a mente aberta e com um baita otimismo. Sou favorável a expansão de velhos conceitos a novos formatos, desde que isso gere boas histórias e aventuras dignas do investimento do leitor de quadrinhos que curte essa arte e deseja boas aquisições para sua coleção. E sim, existe a questão da inclusão racial e a visibilidade de minorias. Mas repito: É preciso que esse movimento seja acompanhado de boas histórias, ou corre o risco de se tornar uma militância vazia.
Felizmente, não foi esse o caso aqui. Esqueça qualquer estranhamento e se deixe surpreender. O novo Super-Man é uma baita HQ divertida! Leve e descontraída, apesar de tratar de ataques terroristas e dissidências políticas, o faz de forma light, e usa a ingenuidade do protagonista como fio condutor da trama, nos mostrando sua evolução no decorrer do percurso, bem como sua interação com os outros heróis e vilões, e seu crescimento como figura heroica. Claro, essa evolução acontece de forma acelerada para nos apresentar uma revista mais dinâmica, mas apesar dessa “pressa”, as etapas são mostradas, desde a primeira cena de Kenan como um valentão, sua relação com seu pai, e a descoberta da responsabilidade de ostentar o nome “Super-Man”.
O humor é a forma encontrada pelo autor para cativar os leitores, na maioria das vezes sendo bem sucedido em criar uma conexão entre o personagem e o público jovem.
No fim das contas, o roteirista Gene Luen Yang é feliz em contar uma história de intrigas e segredos de família bem amarradinha, apesar de alguns clichês, o que não prejudica o desenvolvimento da trama e a dinâmica entre os personagens. O autor faz algumas brincadeiras com os nomes deles, algumas bem óbvias como a homenagem ao Superman original, a começar pelo próprio nome do protagonista, cujas iniciais possuem a repetição fonética, Kong Kenan, em alusão a Clark Kent e o fato dele se apaixonar por uma repórter (de tevê) chamada Laney Lan (em alusão a Lois Lane, ou Lana Lang, se preferir), sem falar de uma certa cena que emula a clássica capa de Action Comics #1, de 1938, onde se deu a estréia do Superman.
Apesar de não ter um roteiro complexo, ele é bem estruturado, ligando de forma inteligente as motivações dos vilões ao Kenan de forma pessoal. Além disso, a equipe chinesa de heróis da DC criada por Grant Morrison não foi esquecida; Os Dez Grandiosos marcam presença com a liderança de seu Augusto General de Ferro na batalha final que envolve um clássico inimigo da Liga da Justiça Original.
Os desenhos são de Viktor Bogdanovic com a arte-final de Richard Friend, que conseguem representar bem as sequencias de ação mais sérias e os momentos de humor que se alternam durante a história, e mesmo sem ser impressionante, cumprem sua função sem comprometer o ritmo proposto pelo autor.
O saldo final nos mostra que Kong Kenan, no começo mostrado como alguém altamente subestimado, prova que pode ser um grande personagem, com características que o distinguem do Superman do Kansas, fazendo com que seja digno de ostentar o símbolo e o nome do Homem de Aço.
Eu realmente fiquei interessado em acompanhar os próximos capítulos das desventuras desse novo Super-Man… então, me parece que contrariando várias projeções negativas, os autores foram bem sucedidos em sua empreitada.