“O bater das asas da borboleta inspira o furação”
“É. Magia.
“Não. Matemática Fractal.”
“Dá na mesma”
Por Rodrigo Henry Garrit
“Sempre que um local tenha tido orações e desejos concentrados direcionados a ele, forma-se um vértice elétrico que atrai para si uma força que se torna por um tempo um corpo coerente que pode ser sentido e utilizado pelo homem. É ao redor desses corpos de força que templos, locais de culto e, posteriormente, igrejas são erigidos; são Cálices que recebem um derramamento Cósmico focalizado em cada local específico”.
Dion Fortune, Aspects of Occultism
As Linhas de Ley são ligações ancestrais que formam retas as quais acredita-se, eram usadas como rotas comerciais onde se atribuíam uma poderosa fonte de energias místicas. As linhas transcorrem todo o planeta, demarcando determinados locais de poder propícios a concretização de feitiços devido a sua grande concentração de magia. Desde pegadas de povos primitivos até grandes monumentos de pedra (o qual destaca-se o famoso Stonehenge, na Inglaterra, embora existam muitos outros), as assim chamadas Linhas de Ley têm despertado a curiosidade dos estudiosos do ocultismo assim como a ganância daqueles que intencionam se aproveitar de seu poder. Assim como o corpo humano possui pontos de energia – Chakras – que se provam benéficos desde uma simples meditação até a arte do Kung Fu e fins medicinais, utilizado principalmente pela acupuntura, o planeta também possui esses pontos enérgicos. Os caminhos que ligam uns aos outros. Essas são as Linhas de Ley.
Refugiado com um grupo de “amantes da natureza” após ser acusado de ser um assassino satanista, John Constantine experimenta um período de paz, e faz alguns amigos, pra variar. Participando desse modo de vida exotérico, fica sabendo mais a respeito das Linhas de Ley, e conhece a jovem Mercury, uma genuína paranormal que se torna alvo da empresa Geotroniks, secretamente financiada por uma sociedade secreta que visa corromper o poder místico das Linhas, usando-as para fomentar o medo e instaurar novas diretrizes politicas e sociais que atendam aos seus propósitos. Usando o conhecimento das Linhas e aproveitando-se dos poderes de Mercury, eles criam uma verdadeira “Máquina do Medo”, extraindo as fobias de pessoas transtornadas e agrupando-as em um único local de poder, gerando uma aberração supostamente controlada por contenções mágicas. Obviamente isso sai completamente de controle, e cabe a Constantine arrumar a bagunça, vencer o vilão, salvar a mocinha e proteger o mundo.
Mas que diabo, estamos falando do Constantine aqui! E como de costume em tudo o que ele se envolve, as coisas ainda precisam piorar muito para ficarem verdadeiramente ruins!
Esse é o quarto volume da série “Origens”, onde a Panini republicou os primórdios do mago trambiqueiro mais amado dos quadrinhos. A primeira parte do arco “A Máquina do Medo” foi publicada no encadernado anterior e finalizada aqui. É uma história extensa e não linear, onde Jamie Delano usa muitas figuras de linguagem para expor o que ele realmente quer dizer; sua crítica da politica dos anos oitenta (época da publicação original da história) além de outras alfinetas à sociedade, tudo isso muito bem disfarçado com o pano de fundo místico. Para alguns essa trajetória pode parecer confusa, fazendo a história se perder em alguns pontos, mas no devido tempo esses pontos são ligados e para nosso alívio, tudo faz sentido, guiando o leitor até o final apoteótico da narrativa.
Com personagens secundários muito bem construídos e os já esperados diálogos ácidos, Delano prossegue em sua missão de construir os pilares do mago inglês, provando que sua marca sobre ele tão cedo não será esquecida.
Ponto positivo para o retorno de (uma irreconhecível, amnésica e indiferente, mas mesmo assim muito bem vinda) Zed!
O encadernado traz também a história “Da ficção para a vida”, onde temos a oportunidade de ver como Delano por coincidência ou não, anteviu conceitos que no futuro seriam amplamente explorados dentro da própria Vertigo com as ótimas séries “Fábulas” e “O Inescrito”.

Não tenho muito acrescentar sobre a arte de Mark Buckinghan e Alfredo Alcala que ilustraram “A Máquina do Medo” e Dean Motter e Ron Tiner, responsáveis por “Da Ficção para a Vida”. Seu estilo sóbrio marcou época para o título Hellblazer e mantém o clima (Sur)realista das desventuras de John Constantine.
Não tenha medo de ser perder nessas páginas!